Tenho certeza que vocês já ouviram falar, ao menos, do filme “Cisne Negro”: que é muito bom e que a Natalie Portman mais do que mereceu o Oscar, etc... E esses dias fui ao cinema assisti-lo, com uma expectativa relativamente baixa, para evitar decepções. E, honestamente, não me decepcionei, pelo contrário, não vi as duas horas de filme passarem e foram duas horas muito emocionantes.
O filme conta a história de uma bailarina extremamente dedicada (Natalie Portman), com sua técnica perfeita, mas que não consegue se soltar e dançar com emoção. Ela faz o teste para o papel “Rainha Cisne” do balé “O lago dos cisnes” – Se forem assistir o filme, pesquisem sobre o balé Lago dos Cisnes, caso não conheçam a história – papel esse que exige que ela interprete duas personagens: o Cisne Branco, delicada, com movimentos suaves, e o Cisne Negro, ágil, perversa, sedutora. Para o papel do Cisne Branco ela é perfeita, mas para o Negro, não. E ela passa o filme se transformando no Cisne Negro, com todas as dificuldades que a tal transformação proporciona.
É um filme ótimo: chocante, amedrontador, surpreendente. Natalie Portman está perfeita nesse papel, perfeita; não tinha como não ganhar o Óscar.
Sei que quando o filme acabou, eu fiquei estacada na poltrona do cinema. Perplexa, imóvel. Estacada. Estacada. Olhei para minha mãe ao meu lado e ela estava igual. Eu entrei num estado de êxtase, de choque, como se eu tivesse virado monge budista e tivesse meditado até ir para outra dimensão... Chorando e rindo ao mesmo tempo, com uma sensação tão pacífica, tão eufórica, tão... Completa. E tudo isso devido a um filme. (!!)
Saímos do cinema comentando animadamente o filme e como ele se desenrolou, e eu ainda estava com a mesma sensação – e o rosto levemente inchado de choro, mas isso é detalhe. Minha mãe sorriu ao me ouvir tentando descrever aquela sensação indescritível e concluiu: “Tu entrou em um estado de catarse”.
Catarse... Hã? Catarse é um termo empregado para designar uma espécie de libertação, prazer ou serenidade que a poesia, a tragédia e a música provocam no homem.
“Este prazer (catarse) compõe-se de vários elementos: consiste num desafogo, um repouso, num modo de ocupar os lazeres – num gozo intelectual –, numa vantagem que não é inútil aos bons costumes; enfim, opera a catarse, palavra que uns traduzem por purificação e outros por purgação.
(...)
Aristóteles, (...) entende pela catarse uma expulsão provocada de um humor incômodo por sua superabundância. Do mesmo modo que a música apaixonada, a tragédia, bem concebida, deve determinar no auditório, que se deixou empolgar pelas paixões expressas, num gozo que, no final do espetáculo, dá impressão de libertação e de calma, de apaziguamento, como se a obra tivesse dado ocasião para o escoamento do excesso de emoções. ”
É uma das melhores sensações do mundo, se vocês querem saber, e quase fico triste ao saber que se eu assistir o filme de novo, não terei de novo a mesma sensação.
Mas quanto ao filme: assistam-no, assistam-no. :D Só não esperem se sentir do mesmo jeito que eu me senti depois de toda a minha “propaganda”; até porque eu acredito que seja algo muito relativo.
Beijos, meus lindos.
Fontes: minha mãe, rá, http://www.didacticaeditora.pt/arte_de_pensar/cap13.html, e Arte Poética, texto integral, de Aristóteles.